sexta-feira, 23 de março de 2012

Sobre ratos e abutres

The Crucifixion - Viktor Sanfonkin

Existe no ecossistema político, e porque não social (afinal a politiké afeta todos os aspectos da nossa vida), duas espécies predominantes: os ratos e os abutres. Tais seres são responsáveis por toda carga de frustração, indignação e angústia da sociedade para com as nossas autoridades.

Os ratos ocupam-se das tramoias, da criação, fortalecimento e divulgação dos boatos e das intrigas. Estão sempre com "novidades" na ponta da língua, conversas de pé de ouvido, sempre presenciais, jamais ao telefone: são os reis do "ouvi dizer", "eu soube de um negócio ali..." e do "mas não conta pra ninguém". 

Trabalham em benefício próprio, cobiçando um novo cargo, uma promoção ou um cafezinho para desenrolar aquelas dificuldades burocráticas criadas por eles para vender facilidades. Transformam desconhecidos em amigos de infância conforme a conveniência. Sinceridade e lealdade não existem no seu vocabulário e tão pouco em sua postura, mas mentira e falsidade sim! Com essa mesma facilidade elegem seus inimigos mortais, mas nunca perenes, pois "o cenário pode mudar" e na politicagem ele muda todo dia. Afinal de contas não há planejamento estratégico na ganância dos ratos, são tão inconstantes quanto seu humor, mudam de gostos e desejos como trocam de roupa todos os dias.

Abutres são mais simples e abundantes, geralmente usados pelos ratos como massa de manobra dos seus interesses. Não afeitos ao trabalho, vivem procrastinando e descobrindo novas e empolgantes maneiras de enrolar seu ofício até o horário de bater o ponto. Menos gananciosos, não se preocupam tanto em crescer na vida, estão acomodados e conformados com seus direitos adquiridos, adoram feriados e dias santos. São extremamente pessimistas, vivem por agourar o trabalho dos colegas que se destacam e detestam mudanças que afetem suas tarefas e obrigações, pois isso significa descobrir novos hábitos que proporcionem o retorno ao seu ócio recreativo.

E por falar em recreação, adoram as novidades trazidas pelos ratos, e fazem questão de ramificá-las, pois como diz o ditado "... quem conta um conto aumenta um ponto". E quão habilidosos eles são em especular, sempre negativamente claro, porque "nada nesse país dá certo", "isso eu já sabia que ia acontecer", "é o jeito". A má vontade impera, e o pré-julgamento também, pois acham-se juízes e com a pouca e rala informação trazida pelos ratos, rapidamente condenam e caluniam aqueles que não conhece e/ou não são do seu agrado. Tal como carrascos da moral, esquecem de se olhar no espelho, de pensar no direito que têm de apontar o dedo para quem quer que seja e o pior, no mal que isso faz para eles mesmos.

Custa-me acreditar que Santo Agostinho estava certo em dizer que é da natureza do homem ser mal, mesmo com todas as atrocidades que presenciamos todos os dias, mesmo com tantos ratos e abutres alimentando-se dos restos podres da dignidade humana. Então eu vejo aqueles que acreditam que podem melhorar o mundo: os voluntários, os praticantes da filantropia, os que ouvem mais e falam menos, os empreendedores e aqueles que simplesmente ajudam, por vocação, porque foi a educação que receberam, porque experimentaram fazer o bem e gostaram, pois vicia, um vício bom e saudável. Este é o único vício de que precisamos meu caros, grande abraço.

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